O Ifá está atravessando uma fase bastante delicada nos dias atuais. Parece que se infestou de pessoas que não sabem e de outras que sabem, mas fingem que não sabem, pois só atendem seu mercadinho. Isso tem causado feridas muito difíceis de cicatrizar. Pode parecer uma visão pessimista da realidade, mas não é; trata-se da mais pura realidade.
Este texto, além de ter como objetivo chamar a reflexão dos leitores, tenta explicar de forma resumida o porquê dessa realidade caótica. Para começar, devemos definir o que seria Ifá. Muitos o definem como uma religião, outros como uma prática, e outros nem sabem como definir, mas pretendem fazer dinheiro com algo que sequer dominam, conhecem ou se importam em entender.
Ifá não seria outra coisa senão um compêndio de informações sobre espiritualidade, cultura, história, teologia, filosofia e folclore do próprio povo yorùbá. Nesse sentido, Ifá não é algo fácil de ser tangibilizado, pois se baseia em informações que, como uma espécie de paródia, são extremamente complexas quando não estudadas em sua totalidade. Portanto, Ifá não é uma religião, assim como a Bíblia não é a religião dos cristãos, nem o Alcorão é a religião dos muçulmanos. Porém, nenhuma dessas religiões poderia existir sem uma fonte de informação que as sustente. A mesma coisa acontece com Ifá; Ifá é a palavra sagrada que norteia o Isese, e quando falo de Ifá, também me remeto ao culto de Ifá. Contudo, para ser bem sincero, Ifá vai além do culto, pois é a palavra e o conhecimento que vêm do próprio ser superior. Em sentido abstrato, tudo o que seja conhecimento tradicional e ancestral, passado de geração em geração, é em si Ifá. Sei que este texto não será do agrado dos “Anti-Ifá”, mas o que fazer? Para eles, também dedico meu tempo, pois muitas vezes estou mais do lado deles do que do lado dos que se dizem ser do Ifá. Escutando e observando a realidade de hoje, fica fácil compreender o porquê de minhas palavras.
Chegamos a um ponto em que muitos pretendem falar um idioma que desconhecem, lembrando a alguns pastores de duvidoso caráter e seu tão afamado “dom de línguas”. Muitos praticantes de Ifá hoje funcionam assim, vendendo o que não têm, guiando cegos com os olhos vendados e replicando mais ideias próprias do que Ifá em seu estado mais puro. Mas isso nos leva a um dilema que está presente na origem da situação que estou descrevendo. Poderia ser comparado ao velho dilema da galinha e do ovo: qual foi o primeiro a existir? O que me leva à seguinte pergunta: os sacerdotes ignorantes produzem praticantes ignorantes, ou os praticantes ignorantes produzem sacerdotes ignorantes? Pouco importa a resposta, desde que a palavra "ignorante" esteja associada, e esse é o real problema. Se compreendermos Ifá como a sabedoria ancestral, poderemos entender que, mesmo caindo em mãos dos mercadores, o verdadeiro Ifá se desvanecerá como grãos de areia entre as mãos, não ficando absolutamente nada. O que mais se vê hoje em dia é a procura por poder, vaidade, moda e status, pagando muito por nada. Ifá precisa de uma âncora intelectual para permanecer vivo entre quem o possui e quem o consome; está se tornando aquela palavra que vive na boca de poucos e tenta entrar nos ouvidos de muitos, a maioria dos quais está saturada de ouvir sempre a mesma retórica sem originalidade: você tem que se iniciar, se não vai morrer.
Como falei anteriormente, isso se tornou um sistema perverso que se retroalimenta. Aqui, por ação e omissão, ninguém está isento. Muitas personalidades renomadas da cúpula do Ifá vivem vomitando discursos moralistas e apostando na ética inquestionável. Para quem tem mais de duas décadas dentro da cultura do Isese, é fácil ver que muitas vezes são eles mesmos que alimentam os piores inimigos do Ifá na época atual em troca de dinheiro. Isso não pode ser chamado de outra forma que não seja corrupção. Ifá, por enquanto, segue sendo a palavra usada e não ouvida; é usada para enganar e não é ouvida porque a verdade contradiz os interesses de muitos.
Graças aos Irunmole e a Olodumare, as pessoas estão acordando. Porém, devagar, muito devagar, vamos vendo uma decantação natural entre os que amam os Orisa e os que usam os Orisa. Fico na esperança de dias melhores.
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Ire oo,
Akogun Fasola
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