Èṣù desejado, porém incompreendido.

Èṣù desejado, porém incompreendido.
Estudos de Òrìṣà

14/10/2024

Esù Desejado, Porém Incompreendido

Não é novidade que quando alguém deseja algo, a motivação na maioria das vezes é o que aquele algo representa e tem para oferecer, e não o que aquilo é de fato em sua profundidade. Fazendo uma analogia simples do que quero dizer: a maioria das pessoas compra carros na maioria das vezes por status, tecnologia oferecida e necessidade, mas poucos sabem ou entendem o funcionamento de um carro.

Com Esù acontece a mesma coisa, e não seria problema se um praticante novo, ou até uma pessoa leiga que procura na casa de um sacerdote por soluções, agisse assim. O maior problema que percebo é que os próprios sacerdotes pouco entendem ou querem entender, mas, de fato, todos querem contar com o apoio de Esù. Por isso este texto leva o título de “Esù, Desejado e Incompreendido”.

Falar de Esù é falar do Irunmole mais poderoso e próximo ao criador. Ao contrário de algumas frases referidas a ele que viraram moda, Esù não está nem quer estar perto do homem; ele existe por uma única razão: fazer cumprir a lei de Olodumare.

Algumas pessoas têm uma retórica no mínimo incongruente com a lógica, definindo Esù como o caos do universo, quando na verdade é o oposto. Não existe outro Òrìṣà mais apegado à ordem e ao equilíbrio que ele. Eu costumo ensinar que o caos que o ser humano se empenha em produzir é o que deixa Esù ainda mais empenhado no trabalho.

Sobre esta última reflexão, é habitual que muitos responsabilizem os Òrìṣà pelas falências do próprio praticante. Esù não ficou isento disso, e o que me leva a elaborar este texto é justamente mostrar a importância que Esù tem para a criação e para as nossas vidas.

Esù, por muito tempo, tem sido vítima de confusões e adulterações, tanto em conceito como em função. Seria muito longo explicar em um simples material os porquês, mas o que, sim, deve ser compreendido é que nada acontece sem Esù. Ele é quem possibilita a transição entre ideia e fato, tanto a boa quanto a ruim, sendo assim a única divindade que tem o poder para interceder na relação entre o homem e os Òrìṣà, assim como entre o homem e o ser supremo.

Este poderoso e misterioso Òrìṣà encerra dentro de si o mistério da vida. Explicar Esù pode resultar em mais perguntas do que respostas, porque ele é o mistério em si. Ele tem uma funcionalidade diversa, apoia toda ação, seja ela certa ou errada, porque ele não atende à lógica da melhora humana. Muitos dizem que Esù tenta o ser humano ao erro. Aqui, novamente, devo sinalizar a controvérsia e o pouco entendimento de alguns. Na ótica de Isese, todo ser humano é livre para realizar suas escolhas, e isso sempre repercute em consequências que podem ser positivas ou negativas. Dizer que Esù tenta ao erro dispara na minha mente alguns conceitos baseados na tradição Yorùbá que fazem cair por terra essa ideia. Um exemplo é que, se Esù tenta ao erro, ele se afastaria da ideia de ser um policial de Olodumare, pois um policial não decide o que fazer, ele apenas aplica a lei que já existe. Além disso, vem à minha mente a ideia de Esù que, nas entrelinhas, não é outra coisa senão o próprio diabo dos cristãos, ideia, pelo menos, deslocada, já que dentro de nossa crença não existe um agente que se oponha a Deus. Muito pelo contrário, Esù é de todos os Irunmole aquele que nunca vai interceder em favor do ser humano (porém tampouco contra); ele simplesmente pode, se as condições estão ofertadas, levar os sacrifícios dos seres humanos até o mundo espiritual.

Outra visão ou “conceito” muito visto de Esù que também merece ser debatido é o seguinte: Esù é preexistente à criação. Esta ideia, além de não ter lógica teológica dentro da cultura Yorùbá, tampouco obedece a uma lógica científica e física, pois se Olodumare é a própria criação, nada pode existir em antecedência a ele. E, do ponto de vista físico, o nada não existe; a existência em si é algo. Em outras palavras, nada pode existir no ou do nada, nem Esù nem qualquer outra coisa.

Esù, por sua vez, é o único Òrìṣà que interage com os Ajogun, que seriam as energias de correção da criação. Portanto, seguindo a lógica explicada, Esù não procura o bem nem o mal para ninguém; ele permite ou não permite o acesso de Ajogun na vida da pessoa. Esù sempre sabe o destino do ser humano. De fato, quando toda pessoa empreende a viagem do Orun para o Aye, Esù toma registro de nossas escolhas e das coisas a serem desempenhadas aqui na Terra. É assim que ele pode verificar se estamos no caminho certo ou não, mas novamente ele não vai interceder nisso, pois um privilégio, e também sua própria maldição, é o livre-arbítrio. Temos um ditado dentro do Ifá que diz: aquele que Ifá vai salvar, deve se salvar primeiro. Quer dizer que tudo passa pela própria escolha, ação, omissão e evolução do próprio ser humano.

Se gostou do assunto e quer saber mais, deixe seu comentário.

Ire oo,

Akogun Fasola


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