Muitas vezes, princípios fundamentais são esquecidos, ainda mais em um mundo em que os valores se baseiam mais nas aparências. Neste texto, vou falar sobre a criação segundo a ótica tradicional Yorùbá. Sabemos que toda árvore tem sua raiz e todo rio tem sua fonte; partindo deste princípio, não é concebível que um seguidor de Òrìṣà ao menos não se questione filosoficamente acerca do começo da criação e de como tudo se deu.
Assim como qualquer religião do mundo, a prática Yorùbá tem um compêndio de informações míticas e históricas que são consideradas sagradas para explicar o começo do universo. E o mais interessante é que nada do que os Yorùbá já sabiam há milhares de anos atrás pode ser contraposto pela ciência.
A criação, segundo a mitologia Yorùbá, começa com um orvalho que se expandiu. Como já sabemos, a linguagem de Ifá é metafórica, mas, para a ciência moderna, o universo foi uma “singularidade densa”. A temperatura transformou e deu forma à massa preexistente, e este estado começou a expandir, formando o que hoje chamamos de matéria. A academia chama este período de expansão, e dentro do Ifá o conhecemos como Iri se.
O odu Osa Ogunda fala claramente sobre isso. Posteriormente à expansão do universo, a própria expansão e aceleração começaram a esfriar a matéria, dando lugar à compactação das partículas e, assim, nascendo a matéria física. Isto pode ser encontrado dentro do Ifá como o nascimento de Ayé, o Irunmole da habitabilidade, e o planeta Terra, ao qual chamamos Ilè Ayé (a casa de Ayé) por esta mesma razão.
O esfriamento foi o que proporcionou uma massa adequada para a Terra ser como ela é. Por isso falamos do “nascimento de Ayé”. A ciência descreve que a massa correta de um planeta é o que faz atuar adequadamente para ter uma força de gravidade e atmosfera ideal para sustentar a vida.
Claro, isso não foi instantâneo. Ifá diz em Òdì Méjì que, desde a aparição de Ilè Ayé até a Terra ficar pronta para a vida, passaram-se quatro etapas, e a ciência assim as descreve: Hadeico, Arcaico, Proterozoico e Fanerozoico. Isto pode ser traduzido ao grego antigo como: Inferno, Origem, Vida Pregressa e Vida Tardia.
Com as condições corretas, parte da atmosfera em forma de vapor, já muito mais fria, começou a se condensar e deu formação ao oceano primitivo. Dentro do Ifá podemos observar a vinda de Olókun, onde o mito fala que ele pretendia governar o planeta inteiro.
Posterior a essa etapa, começa o processo de habitabilidade, e sobre isso Ifá menciona informações em vários Odu, mas um clássico pode ser Òkànràn Onílè, onde se menciona a expansão da Terra e a vinda de Odùduwà Atẹnwónrò, o Irunmole que terminou por criar a terra firme quando Ọbàtálá falhou nesta tarefa. Já com a terra formada e expandida, três Irunmole foram enviados para tentar concluir este processo. O primeiro foi Ògún, que foi seguido por seus seguidores, e ele traçou o caminho abrindo espaço, mas fracassaram, pois só levaram seus facões e puderam dispor apenas de madeira. Em segunda instância, Ọbàtálá foi enviado com seus seguidores. Estes trouxeram apenas Igbin e não puderam ficar, já que não tinham o que comer. Por último, foi Òrúnmìlà, que havia consultado Ifá e, como parte da orientação, trouxe um saco com sementes. Com o caminho traçado por Ògún e a água do Igbin de Ọbàtálá, ele conseguiu semear os primeiros frutos comestíveis.
Já com esta etapa concluída, poderíamos dizer que a criação tomou o rumo de sustentar a vida. A ciência explica que a vida começou através de bactérias presentes no mar, que sofreram mutações e posteriormente mudaram para a terra, dando origem assim à evolução da vida.
Isto é apenas um resumo lógico, mas o importante é que possamos compreender que a cultura dos Òrìṣà não precisa nem deve seguir nenhum outro segmento, já que possuímos uma gênese própria. E como pude mostrar, a visão abordada é muito mais tangível e científica. Para nós, o Isese é a base das demais crenças e não é necessário contradizer o que pode ser comprovado. Isto, claro, não inibe a influência da espiritualidade, muito pelo contrário: acentua ainda mais nossa fonte de informação e leva os praticantes sempre a um ponto de evolução intelectual e espiritual.
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Ire oo,
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